Depois de quase uma década de pausa, este ano letivo de 2024/2025 decidi regressar às salas de aula. Desde 2004 até 2015, lecionei e formei na área da informática, mas o crescente desinteresse dos alunos fez-me questionar o sentido da minha carreira como professor. Aos poucos, vi-me cada vez mais desmotivado, até que decidi abandonar o ensino. Abracei o caminho empresarial a tempo inteiro, desenvolvendo o meu próprio negócio que já tinha iniciado, mas agora, após 11 anos, algo me puxa novamente para a sala de aula.
Este regresso, no entanto, não é uma repetição do passado. É um retorno com uma nova abordagem, uma nova perspetiva. Nos últimos anos, enquanto empresário, aprendi a importância da adaptação, algo que, curiosamente, me parece cada vez mais urgente também no ensino. Em vez de me concentrar em “o que tenho de ensinar”, quero dar mais valor ao que os alunos podem e querem aprender. A ideia é simples, mas poderosa: a educação precisa ser flexível, adaptando-se às necessidades e interesses dos alunos.
Esta mudança de paradigma surge, em parte, da frustração que senti como empresário. No mundo dos negócios, o que parecia ser um crescimento natural — mais colaboradores, mais projetos, mais responsabilidade — acabou por me sobrecarregar de uma forma inesperada. Por mais que a equipa cresça, o trabalho mal feito parece multiplicar-se, e, no meio desse caos, dei por mim a resolver problemas operacionais em vez de liderar e gerir a empresa estrategicamente.
Foi então que, numa conversa com a Coach empresarial Mariana Arga e Lima, fui confrontado com uma ideia interessante. Ela contou-me a história de um dono de oficina que, para evoluir como empresário, foi aconselhado a abrir uma segunda oficina, justamente para se afastar da primeira. A lógica era simples: ao ausentar-se do dia a dia operacional, ele forçaria a equipa a assumir responsabilidades. Esta analogia ficou na minha mente. Pensei que, tal como esse empresário, eu precisava de uma “segunda oficina” — algo que me obrigasse a sair do lado operacional da minha empresa. A sala de aula tornou-se a minha resposta.
Assim, este regresso ao ensino cumpre dois objetivos: primeiro, dar-me uma oportunidade de redescobrir o prazer de ensinar, mas de uma forma diferente, mais alinhada com a realidade e com as motivações dos alunos. Segundo, afastar-me das operações diárias da minha empresa, forçando a minha equipa a desenvolver uma maior autonomia e responsabilidade. Um pouco como naqueles relatos de soldados que, ao verem as suas pontes queimadas, lutam pela vida porque não há retorno.
Com um horário definido e fixo, com um compromisso de estar desligado da empresa por algumas horas, obriga-me a fazer uma gestão mais eficaz do que é realmente importante e que tem de ser feito por mim, sendo que não estando disponível, alguém vai ter de encontrar solução e, assim, foco-me no que é mesmo importante e que só eu posso fazer.
Ao voltar às aulas, estou, de certa forma, “a queimar os meus barcos”. Estou a criar uma situação em que preciso confiar no meu staff, deixando-os encontrar o seu próprio caminho, sem a minha constante intervenção. Este é o meu compromisso, tanto com o ensino como com o mundo empresarial: estar onde posso fazer a diferença, seja na formação de jovens ou na criação de uma equipa empresarial mais forte e independente.
Talvez este regresso seja mais do que um simples retorno ao ensino. É uma escolha estratégica para me afastar da zona de conforto e permitir que a mudança ocorra tanto no ambiente educacional quanto no empresarial. Assim como os alunos precisam de uma educação adaptada às suas realidades, as empresas também necessitam de líderes que saibam quando sair de cena para que a verdadeira evolução possa acontecer.
0 comentários